Lisandra Pioner retoma, na reflexão abaixo, o valor do exemplo. Mais poderoso e eficiente que milhares de palavras.
A era do desequilíbrio (texto publicado em 14 de junho na Zero Hora)
"O que me chama mais a atenção é a incompetência em gerirmos nossos atos cotidianos"
Sempre pensei que o silêncio tudo tinha a ver com a reflexão. Não que
todo silêncio esconda um raciocínio atento, mas certamente não há
meditação sem paz. E aí está o problema. Como refletir em meio a tanto
estardalhaço?
Vivemos em uma sociedade onde o sistema judiciário precisa intervir até mesmo na forma como as famílias educam seus filhos. Aliás, o que é a Lei da Palmada? Lógico que não sou a favor de que se bata em crianças. Óbvio que tenho certeza absoluta de que é possível educar um ser humano sem que seja necessário levantar um dedo sequer. Mas o que me chama a atenção é a incompetência em gerirmos nossos próprios atos cotidianos. Vivemos descompensados. Não estamos dando conta das nossas obrigações básicas. Precisamos que nos fiscalizem para que não sucumbamos à desordem generalizada.
Exigimos que nossos filhos sejam educados à mesa, mas em casa damos comida na boca. Queremos que na escola sejam autônomos em relação a suas necessidades fisiológicas, mas na tranquilidade do nosso lar fazemos a higiene por eles. Solicitamos que respeitem os professores, mas na hora em que enxergamos o tema de casa verbalizamos em alto e bom som que a professora "perdeu a noção", tamanha a quantidade de tarefas. Obrigamos a colaborarem na arrumação do quarto do amiguinho, mas quem organiza sua caixa de brinquedos somos nós. Chamamos sua atenção para que sejam gentis, mas xingamos o motorista que nos corta a frente. Pedimos para que sejam honestos, mas não devolvemos o troco que recebemos a mais. Queremos que sejam responsáveis, mas organizamos por eles os materiais do dia seguinte na mochila. Fazemos questão de que tenham seus direitos respeitados, mas paramos em cima da faixa de pedestre, ignorando que quem anda a pé também tem direitos.
Há um equívoco determinante no dia a dia das famílias contemporâneas. Um abismo entre os hábitos e as exigências. Nossa vida está no piloto automático. Fazemos barulho demais e silenciamos de menos. Nos apressamos, agimos com imprudência, nos precipitamos, adiantamos os acontecimentos, pulamos etapas. Em contrapartida, impedimos a autonomia dos nossos filhos, suprindo-lhes todas as faltas — tão necessárias à constituição de um ser humano psíquica e emocionalmente saudável — ou cobrando em excesso e punindo se não nos respondem com o esperado.
A era do desequilíbrio! A instabilidade, a desarmonia e a perturbação fazem parte da nossa rotina. E há os que realmente acreditam que isso seja um efeito do "progresso". Progresso não seria sinônimo de evolução? Pois tenho outra visão do que seja evoluir, desenvolver-se.
O silêncio opera milagres em um meio turbulento. A busca incessante pela paz tão almejada provavelmente está no silêncio que nos desabituamos a fazer.
Vivemos em uma sociedade onde o sistema judiciário precisa intervir até mesmo na forma como as famílias educam seus filhos. Aliás, o que é a Lei da Palmada? Lógico que não sou a favor de que se bata em crianças. Óbvio que tenho certeza absoluta de que é possível educar um ser humano sem que seja necessário levantar um dedo sequer. Mas o que me chama a atenção é a incompetência em gerirmos nossos próprios atos cotidianos. Vivemos descompensados. Não estamos dando conta das nossas obrigações básicas. Precisamos que nos fiscalizem para que não sucumbamos à desordem generalizada.
Exigimos que nossos filhos sejam educados à mesa, mas em casa damos comida na boca. Queremos que na escola sejam autônomos em relação a suas necessidades fisiológicas, mas na tranquilidade do nosso lar fazemos a higiene por eles. Solicitamos que respeitem os professores, mas na hora em que enxergamos o tema de casa verbalizamos em alto e bom som que a professora "perdeu a noção", tamanha a quantidade de tarefas. Obrigamos a colaborarem na arrumação do quarto do amiguinho, mas quem organiza sua caixa de brinquedos somos nós. Chamamos sua atenção para que sejam gentis, mas xingamos o motorista que nos corta a frente. Pedimos para que sejam honestos, mas não devolvemos o troco que recebemos a mais. Queremos que sejam responsáveis, mas organizamos por eles os materiais do dia seguinte na mochila. Fazemos questão de que tenham seus direitos respeitados, mas paramos em cima da faixa de pedestre, ignorando que quem anda a pé também tem direitos.
Há um equívoco determinante no dia a dia das famílias contemporâneas. Um abismo entre os hábitos e as exigências. Nossa vida está no piloto automático. Fazemos barulho demais e silenciamos de menos. Nos apressamos, agimos com imprudência, nos precipitamos, adiantamos os acontecimentos, pulamos etapas. Em contrapartida, impedimos a autonomia dos nossos filhos, suprindo-lhes todas as faltas — tão necessárias à constituição de um ser humano psíquica e emocionalmente saudável — ou cobrando em excesso e punindo se não nos respondem com o esperado.
A era do desequilíbrio! A instabilidade, a desarmonia e a perturbação fazem parte da nossa rotina. E há os que realmente acreditam que isso seja um efeito do "progresso". Progresso não seria sinônimo de evolução? Pois tenho outra visão do que seja evoluir, desenvolver-se.
O silêncio opera milagres em um meio turbulento. A busca incessante pela paz tão almejada provavelmente está no silêncio que nos desabituamos a fazer.
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